26 de setembro de 2010
à espera da manhã seguinte.
pensei em entrar nos serviços académicos para rasgar os computadores e destruir os papéis à paulada. houve coisas que quis que soubesses, mas que nunca cheguei a dizer-te. há mais empresas municipais do que municípios. há milhares de fundações e parcerias público-privadas do mais inútil que se possa pensar. logo, um aumento de impostos não me parece propriamente imprescindível. escrevo sentado à espera que a chuva caia e leve as minhas palavras. fui ao médico e o meu estômago aconselhou-me a deixar de beber. se todos os anúncios de emprego pretenderem pessoas com experiência profissional nunca receberei um ordenado. faço uma reconceptualização dos meus conceitos a cada cinco minutos. entro na sala a dizer que tudo vai correr bem, quando sei que tudo vai correr mal e que me vou magoar. sinto-me assustado por não estar assustado com a palavra neoliberalismo. os especialistas, que não a conhecem, dizem ser extremamente perigosa. fiquei tão absorvido pelos sons da água e das árvores a baloiçar ao ritmo do vento que pensei estar sozinho no mundo. quando sais o tempo pára e fica a olhar fixamente para mim. recebi uma carta registada a avisar que estou morto.
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