10 de fevereiro de 2010

tu fizeste de mim um fantasma.

estou-me a sentir apertado. tenho medo de sair de casa. vou encurtar o meu dia. ou preso. principalmente porque não tenho nenhum sítio para ir. sou eu que uso as palavras. preso é melhor. mas penso sempre que quando decidir sair vai ser quando tu irás decidir chegar. logo sou eu que decido quando é que isto começa e acaba. vou-me despir. então acabo sempre por ficar. quero que acabe agora. lentamente. só oiço os sons da rua. porque não sei se existes. muito lentamente. vejo as luzes. é uma mistura de sonho e realidade. e vou dobrar a roupa carinhosamente. faço sempre o jantar para dois. já nem sei se eu existo. vou guardá-la na mochila. tenho duas almofadas na cama. palavras. estou nu. podes querer vir. só palavras. agora que estou nu, não me sinto mais livre. há dias em quase consigo ouvir os teus passos na escada. um amontoado de palavras que não chega para fazer sentido. só agora é que me apercebi disso. o meu coração parece que vai rebentar. as palavras fizeram de ti um fantasma na minha vida. vou pegar numa fita cola. mas depois corro até à porta. eu culpo as palavras. já a tenho na minha mão. lanço-me pelo corredor. tudo começou com palavras. agora quero tapar-me. e não há nada, está tudo vazio. tudo acabará com palavras. vou colar objectos no meu corpo. e agora o fantasma sou eu. vou rasgar as palavras que dissémos e guardá-las numa caixa.

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